No âmbito da disciplina de História, foi-me proposto realizar um trabalho de pesquisa acerca do Sebastianismo, movimento que ocorreu em Portugal no final do séc. XVI, como consequência do desaparecimento de D.Sebastião – que tomou a posse do reino com apenas 14 anos - na batalha de Alcácer Quibir em 1578.
Neste trabalho irei apresentar a sequência de acontecimentos que levaram à expansão deste movimento e algumas personagens, conhecidas como Os falsos D. Sebastião, que tentaram usufruir da situação criando novas expectativas sob os Portugueses que, na altura, ainda esperavam o regresso de D.Sebastião, o Desejado.
Para realizar este trabalho baseei-me, quer em documentos que encontrei em livros, e em poemas de autores da época – como Fernando Pessoa –, quer também em crónicas e análises (ou narrações) baseadas em factos e livros históricos – encontradas na Web.
Nota: o trabalho é composto por excertos adaptados de várias obras e documentos que serão respectivamente indicados na bibliografia.
Fig.2- Quadro alusivo à Batalha de Alcácer Quibir.
I. Sebastianismo
Tal como já referi, o Sebastianismo foi um movimento que ocorreu em Portugal nos finais do séc. XVI, como consequência do desaparecimento de D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir, em 1578. Nessa altura, por falta de herdeiros, o trono português ficou entregue a Filipe II, espanhol, e o povo português, já que, até aí, a morte do jovem rei não tinha sido confirmada, e nenhum dos seus pertences – arma, armadura… – ou corpo tinham sido encontrados, ficou com a esperança que, um dia, D. Sebastião iria voltar.
Ele era O Desejado que a qualquer momento deixaria de estar Encoberto e, saindo do seu esconderijo, empunharia a espada da independência dos portugueses. O Rei estava encoberto, mas voltaria numa manhã de nevoeiro montado no seu cavalo branco, tal como tinha desaparecido.
No seu livro Mensagem (representado na figura à direita) Fernando Pessoa descreve, entre outros acontecimentos e realidades da época, a partida de D.Sebastião, aquele que “não voltou mais”, como diz no seu poema A última Nau.
A última Nau
Levando a bordo El-Rei Dom Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto, o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ancia e de presago
Mystério.
Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Volverá da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro Fig.3 - Capa do livro Mensagem.
E breve.
Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minh'alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou 'spaço,
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.
Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mystério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.
II. Falsos D.Sebastião
Durante a ocupação espanhola, a espera por D.Sebastião tornou-se longa disso se aproveitaram quatro impostores para tentarem apoderar-se do trono.
O primeiro apareceu em Penamacor, em 1584, contando histórias sobre a batalha fazendo com que acreditassem que havia participado nela. Era um jovem que tinha acabado de ser expulso do convento de Nossa Senhora do Carmo, em Lisboa.
Mas a fama pouco durou e foi rapidamente preso pelos espanhóis e mandado para as galés1.
(Galé1 - antiga embarcação.)
O segundo falso Desejado surge no ano seguinte e ficou conhecido como o Rei da Ericeira.
Conta-se que os habitantes desta aldeia ouviram um jovem eremita repetir:
Portugal, Portugal que luto te envolve! Ai de mim! Só eu sou a causa dos desastres que te oprimem! Infeliz Sebastião! Uma vida de miséria, de penitência e de lágrimas será suficiente para a expiação dos teus erros!
Foi o que bastou para que Mateus Álvares fosse identificado como sendo o rei desaparecido.
Na realidade tratava-se do filho de um carpinteiro que tinha alguma vantagem em relação ao impostor anterior, já que, a semelhança com o jovem rei era maior: tinha uma tez2 mais clara, a barba loura e tinha também a mesma idade que teria D.Sebastião depois do seu desaparecimento.
Entretanto os fiéis multiplicavam-se e, cada vez mais, queriam ouvir as histórias fantásticas sobre a batalha. Entre os fiéis encontrava-se Pero Afonso, o proprietário de uma quinta, um homem robusto e visceralmente anti-espanhol, que anuncia ao país a chegada do falso rei.
O impostor reúne todas as tropas e faz-se proclamar rei. Confiou o comando das suas tropas a Pero Afonso e casa com a sua filha, tornando-a, assim, rainha. Mateus Álvares chegou mesmo a nomear cargos e a travar duas batalhas.
A 14 de Junho de 1586, é levado para Lisboa. Várias partes do seu corpo são decepadas3 e expostas nas portas da cidade. Aqueles que o tinham reconhecido como rei também foram severamente repreendidos.
O terceiro falso D.Sebastião, Gabriel de Espinoza – chamado de o pasteleiro Madigral - , surgiu a Outubro de 1594. Envolveu-se numa trama confusa que chegou mesmo a envolver D. Ana de Áustria (quarta rainha de Filipe I).
Acabou por ser descoberto, algum tempo mais tarde, pelas tropas espanholas.
Por fim, o último falso D.Sebastião foi Marco Tullio Catizone um ex- prisioneiro que tinha uma aparência semelhante há do rei. Sobre este pouco se sabe, mas, como todos os outros, acabou por ser descoberto.
(Tez2 – Pele.
Decepadas3 – Cortar partes do corpo; mutilar; amputar.)
III. Conclusão
Com a elaboração deste trabalho e com a investigação que tive de realizar, não só aprendi mais sobre a história do nosso país, como também me pude aperceber do quanto importante foi este acontecimento (esta época) para os Portugueses!
Ainda hoje não se sabe ao certo o que aconteceu a D.Sebastião que, na época, era intitulado de o Encoberto-Desejado, que, um dia, iria sair da sua situação de encoberto e voltaria para junto do seu povo, "salvando" os Portugueses do reinado espanhol.
Alguns acreditam na sua morte… Outros ainda esperam por ele…
IV. Netgrafia
-Recuemos... - http://recuemos.blogspot.com
-Farol das letras - http://faroldasletras.no.sapo.pt/frls_sebastianismo.htm
-Wikipédia - http://wikipedia.org
V. Bibliografia
- «Dissimulação, simulação: O rei 'regressado'». In: LUCETTE VALENSIFábulas da Memória. A gloriosa Batalha dos Três Reis Lisboa, Edições Asa, 1996, 350 pp. , pp. 145-156
- J.P. OLIVEIRA MARTINSHistória de Portugal, Tomo ILisboa, Livraria Bertrand, 1882Capítulo IV, O Sebastianismo, pp.: 69.82
- Mensagem, Fernando Pessoa
Poema A última Nau
Trabalho realizado por: Mónica
2 comentários:
Excelente! PArabéns Mónica... pelo trabalho e por estares sempre na crista da onda mantendo a sala dezasseis aberta e em boa forma!
Muitas beijocas
Obrigada!
Outra vez...
{:)
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